A questão mais efervescente desta semana no Brasil, sem
dúvida, é a grande manifestação popular que tomou conta das ruas nas capitais e
principais cidades país afora. O povo ganhou as ruas para protestar, exercendo
um direito garantido na nossa Constituição (art. 5º, inciso XVI: todos podem
reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente
de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada
para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;).
Os protestos iniciaram com o objetivo inicial de pedir a
diminuição do valor das passagens de ônibus na grande São Paulo, bem como uma
melhor qualidade do serviço, como maior quantidade de ônibus e veículos mais
novos. Daí o movimento cresceu e virou uma verdadeira cruzada contra todas as
mazelas que infernizam a sociedade brasileira: inflação, corrupção, saúde e
educação públicas precárias, má qualidade dos demais serviços públicos, baixa
qualidade de vida, etc.
Nas redes sociais, as opiniões se dividem. Podemos constatar
duas “correntes”: os que chamam o movimento de baderneiros, libertários e
anárquicos, pessoas sem objetivo claro; e a outra, que diz que se trata de um
verdadeiro direito democrático garantido ao povo, de ganhar as ruas e
protestar.
Quem está com a razão afinal?
Não pensem que o motivo real são os vinte centavos do
último aumento das passagens. Não é. A questão é bem mais profunda e reflete um
turbilhão de sentimentos do povo brasileiro, que estão sendo extravasados nas
ruas. Engana-se, também, quem pensa que o vilão é a Copa do Mundo e os seus
estádios superfaturados. Não é só isso.
O movimento é muito parecido com a das “diretas- já” na
década de 80, e mais ainda com o dos “caras-pintadas” que ocorreu no início da
década de 90. Neste último, o movimento popular também começou pleiteando o “Passe
Livre” aos estudantes de forma apartidária e contra a corrupção; o movimento clamava
também pela ética na política. Coincidência ou não, o levante ganhou força após
as denúncias de corrupção feitas pelo então irmão do Presidente Fernando Collor,
Pedro Collor, e contra o seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. A
partir daí o principal foco foi a queda do Presidente, que acabou por renunciar
ao mandato. Mesmo com a renúncia, o impeachment foi levado a cabo pelo Congresso
Nacional, cassando os direitos políticos do Presidente Fernando Collor de
Mello.
Muitos anos se passaram e a política brasileira parecer não
ter mudado muito: os escândalos de corrupção grassam em todas as esferas do
poder político, apareceu dinheiro em cuecas, compraram parlamentares, os
serviços públicos não funcionam como deveriam, a educação e a saúde não tiveram
avanços significativos, os impostos cada vez mais esvaziam os bolsos da
população e o fantasma da inflação está novamente assombrando o brasileiro.
O traço mais marcante e mais bonito desse movimento é
justamente o seu apartidarismo, a sua explosão natural como um tsunami ou um
vulcão em erupção. O depoimento do chefe da Polícia Legislativa, em entrevista
a uma emissora durante a invasão ocorrida ontem (17/06), onde os manifestantes
subiram na marquise do Congresso, deixou bem clara essa constatação: “faz duas
horas que estamos aqui procurando negociar com os líderes do movimento e não os
encontro”. E nem irá encontrar, porque não há bandeiras partidárias comandando
o movimento. Políticos não são bem vindos entre os manifestantes, pelo menos aqueles
que querem explorar ou tirar proveito do movimento.
A verdade é que alguns caciques políticos estão fazendo "beicinho" ou com "ciúmes" e, talvez por isso, tentam desqualificar esse fenômeno social. Outros caciques, por sua vez, estão com medo, muito medo, já que as pedras estão voando sobre os telhados de vidro.
Alguns chegaram a dizer que o movimento é “fraco” porque não
tem “foco” ou não teria um objetivo muito claro. Enganam-se. A revolta tem foco
e tem causa sim, múltiplas, nas várias feridas abertas pelas mazelas sociais, como
dito linhas atrás. A diferença é que, agora, não se quer derrubar o Chefe do
Poder Executivo de plantão; pelo menos por enquanto. Como estão dizendo os
manifestantes: “o gigante acordou”. Agora, falta a classe política abrir os olhos. Durmam com esse barulho!
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