O Ministério Público
do Trabalho do Piauí (MPT-PI) entrou com ação civil pública contra o
Banco do Brasil por dano moral coletivo no valor de R$ 10 milhões. O
motivo é o assédio moral que os funcionários da superintendência do
Banco no estado sofreram com cobranças de metas a serem atingidas. A
principal forma de pressão é por mensagens SMS em aparelhos celulares. O
valor da multa deverá ser revertido em campanha publicitária de combate
ao assédio moral no trabalho e em programas de acompanhamento
psicológico aos trabalhadores.
Iniciadas em janeiro
de 2013, a partir de dados do Sindicato dos Bancários no Piauí, as
investigações constaram que, apesar do plano de metas da empresa ser
semestral, a exigência ocorria diversas vezes ao dia, tendo casos em que
um determinado funcionário afirmou ter recebido mais de 80 mensagens
seguidas. A pressão desencadeou doenças e alguns empregados estavam
tomando remédio controlado para trabalhar e outros anteciparam
aposentadoria.
Havia cobranças enviadas também fora
do horário de serviço, nos finais de semana e de madrugada. "Não
conseguia mais dormir, vivia com uma sensação de frustração. A
superintendência do BB cobrava de tal forma que me sentia incapacitado",
afirmou um dos bancários em depoimento. "Eu recebia tantas ligações e
SMS no celular corporativo que já o deixava no 'vibra', porque o toque
me dava tique nervoso", informou um dos gerentes.
Agressivo
- Para a procuradora do Trabalho Maria Elena Moreira Rêgo, responsável
pela investigação, o tom de cobrança nas mensagens, às vezes agressivo,
outras irônico, algumas ameaçador, extrapola os limites do aceitável. "A
pressão que esses trabalhadores sofreram é injustificável e
insuportável. Ouvi relatos emocionantes de homens angustiados.
Trabalhadores que começaram a ser cobrados e pressionados tão intensa e
constantemente que não resistiram e desistiram", afirmou.
A
procuradora relata na ação que os trabalhadores que prestaram
depoimento são profissionais que dedicaram toda uma vida ao Banco do
Brasil e, ao longo de anos de serviço, apresentaram fichas funcionais
impecáveis. "A partir de dezembro de 2011, com a nova gestão da
administração regional, começou o período de terror psicológico, que
provocou estragos irreversíveis na vida dos gerentes".
Doenças
- Dos funcionários ouvidos, quatro desenvolveram a Síndrome de Burnout
(Síndrome do Esgotamento Profissional) em um período de 12 meses. A
doença é caracterizada pelo estado de tensão emocional e estresse
crônico, relacionados às condições desgastantes do trabalho. As vítimas
da enfermidade, todas elas profissionais com histórico de sucesso no
banco, tinham sentimento de incompetência, fracasso e desempenho
insatisfatório no trabalho. Também foram detectados sintomas como
depressão, tremores, comportamentos agressivos e impaciência.
Na
ação, que foi ajuizada em 16 de dezembro de 2013 e distribuída para a
4ª Vara do Trabalho de Teresina, a procuradora pede ainda a quebra de
sigilo de dados telefônicos de todos os celulares corporativos do Banco
do Brasil no Piauí para a empresa Telemar Norte Leste S/A, a fim de
verificar a frequência das ligações e envios de SMS. Se a empresa de
telefonia não atender ao pedido, pode ser multada em R$ 1 mil por dia de
atraso no envio dos relatórios com os registros das chamadas e
mensagens.
Os trabalhadores podem entrar com ações
individuais na Justiça do Trabalho e pedir ressarcimento por danos
materiais e morais individuais, para reparar o valor gasto com remédios
controlados e tratamento terapêutico e o sofrimento psicológico sofrido.
Estatística
- Este é mais um entre inúmeros casos de assédio moral nos bancos
brasileiros. Não por acaso, um estudo da Universidade de Brasília (UnB)
revela que há uma tentativa de suicídio por dia no setor bancário
brasileiro, sendo que uma se consuma a cada vinte dias. De acordo com a
Central Única dos Trabalhadores (CUT), dos 21.144 bancários afastados em
2012 por problemas de saúde, 25,7% foram diagnosticados com estresse,
depressão e síndrome de pânico em perícias feitas pelo INSS.
Fonte: Ministerio Público do Trabalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário